sexta-feira, 29 de junho de 2007

Intelectual Existe?




Por: Rodrigo Moreira

Hoje em dia ser Nerd tomou um Status Cult. Há apenas alguns anos atrás a simples sigla CDF, que conotava Cabeça de Ferro, era veementemente negada pelos meus coleguinhas de classe. Consequentemente o Cdf era aquele Nerd rejeitado, desajeitado, que usava óculos e tinha cabelos desgrenhados, segregado do convívio social saudável e adepto do livro ao invés do vídeo –game ou da bolinha de gude.

Com o advento das ferramentas tecnológicas modernas (leia-se computadores) o Nerd foi tomando um ar diferente, tínhamos agora um cara expert em computadores, os chamados Geeks, e por intermédio disso bem colocados no mercado de trabalho, ou mesmo aquele carinha divertido da classe que sabia fazer e muito bem todos os trabalhos que o professor mandava com mais facilidade. Ser Nerd estava tomando ares de negócio. E quando os Nerds estavam satisfeitos, pois estava sendo bom ser Nerd, eis que surge uma nova vertente taxativa, os pseudo-intelectuais.

Afinal, o Intelectual existe? Bom, se ele existe ainda hoje, ou não, fica a critério do julgamento pessoal de cada um, porém o que venho questionar aqui não e a existência dos ditos intelectuais, visto que houveram muitos durante a história, mas o que e curioso e que de uns tempos para cá a proliferação do termo “Pseudo-Intelectual” tomou grandes proporções. Ora, se existe um termo que caracteriza uma vertente de seres que hipoteticamente seriam Pseudo ou Falsos Intelectuais, isso quer dizer que ainda existem então os tão falados Intelectuais. Ou podemos dizer também, que o termo surgiu apenas para afrontar pessoas que acham que sabem tudo ou possuem ciência de tudo. Que talvez seja no que eu mais acredite. Em minha opinião, o intelectual atualmente funciona mais como um título dado a uma pessoa que produziu ou produz algo importante, isso levando pelo lado do senso comum, fugindo da catedrática, afinal não há dúvidas da presença deles por aí, porém creio que o papel e os valores se inverteram um pouco.

Gênese x Apocalipse Intelectual.

O Intelectual em sua síntese é o revolucionário moral. Contraposição e viés político são as palavras-chave.Data-se do Séc. XIII era do avanço ocidental, os primeiros intelectuais que se contrapõe e se engajam na dicotomia confusa que havia entre Igreja e Monarquia. Aqueles qual principal objetivo era incitar o pensamento coletivo em prol da ascensão moral e social. Porém, o termo vem tomar sua forma já no século XIX, quando se tem uma noção plena de trabalho braçal e trabalho Intelectual. Onde temos Marx e Engels, só para contextualizar melhor, desenvolvendo trabalho intelectual em prol daqueles que tinham apenas os braços para servir.

Foi a partir do “Caso Dreyfus”, ocorrido na França, onde Alfred Dreyfus oficial da artilharia francesa que era de religião judaica, sofre uma acusação falsa e seu processo e fraudado ate obter-se sua condenação. Digamos que Dreyfus enxergou os dois lados da moeda, pois haviam os intelectuais chamados Antidreyfusard, que incluía nomes como Julio Verne e Charles Maurras, um dos fundadores do Jornal anti-semita Action Francaise. E os chamados Dreyfusard que eram contra a condenação do réu. Em sua maioria artistas, jornalistas, músicos e contraditoriamente Michael Verne, filho de Julio Verne.
Emile Zola, indignado com a punição de Dreyfus, expôs sua opinião no jornal critico L`Aurore. Toma-se então uma forma para o dito intelectual, ou seja, intelectual e aquele que utiliza seu pensamento, seu senso critico, seu discurso rebuscado e seu senso moral em busca de objetivos concernentes a sociedade, um critico de alto teor erudito que age as avessas do poder e da alienação.

Em Meados dos anos 80 vemos uma decrescente em relação à figura do intelectual. O mundo muda, as pessoas idem, a revolução tecnológica nos traz não apenas novidades físicas e aparelhos revolucionários, mas também traz uma revolução moral que incute dentro de nos o individualismo o relativismo a ganância do mercado e a influência como nunca antes vista da mídia. Na conversa de Michel Foucalt e Gilles Deleuzze temos o seguinte: “Ora, o que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles; e elas dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida esse discurso e esse saber...O papel do intelectual não é mais o de se colocar "um pouco na frente ou um pouco de lado" para dizer a muda verdade de todos; é antes o de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: na ordem do saber, da "verdade", da "consciência", do discurso."

O intelectual caiu em desuso. Imaginar aquela figura sentada à penumbra de uma arvore teorizando sobre a vida hoje e coisa do imaginário popular. Hoje os grandes intelectuais, em sua maioria, são filósofos, professores ou teóricos de alguma área cientifica especifica.

No especial o “Silencio dos Intelectuais” veiculado pela TV Educativa, houve um debate pondo em voga a problemática do intelectual contemporâneo. Nomes como Marilena Chauí e Marcelo Coelho discutiram sobre o papel do intelectual hoje. Perguntas como: Intelectual Engajado, figura em extinção? e Qual o Papel do Intelectual Comtemporaneo? faziam parte do questionário dos intelectuais na tentativa de tentar entender o porquê hoje, cada vez mais, ao contrario, os intelectuais caminham ao lado dos universitários, laboratórios e centros de pesquisa e se retraem da vida publica.

Nomes como: Jurgen Habermas, Willard van Orman Quine, ambos filósofos, é o que hoje são considerados nossos intelectuais. Homens imbuídos na causa do saber. E digo mais, o intelectual valorizado hoje em dia esta atrás do computador gerenciando alguma empresa, desenvolvendo algum software, cuidando da segurança nacional, menos pensando em como mudar o quadro caótico da sociedade em que esta inserido. O mundo e do mercado, foi leiloado e arrematado num lance só pela mídia e pela iniciativa privada. Talvez aquele intelectual de tanto pensar, pensar, pensar e não ganhar nada resolveu um dia pensar em ganhar dinheiro, resultado disso: Somos conduzidos, não conduzimos, Guilherme de Almeida que o diga.

Pseudo-Intelectual um Ícone

Analise quantas vezes você ouviu ou leu por ai alguém chamando o outro de Pseudo Intelectual. Há tempos que eu me deparo com essa situação, mas ultimamente vejo que ela ganhou maiores perspectivas principalmente com a chegada do nosso amigo Orkut, que proporciona acaloradas discussões desde o tamanho exato dos sete anões ate sobre Neutrinos. Parafraseando Humberto Ecco “O intelectual tem de ser a consciência crítica do grupo. Ele existe para incomodar”, típica atitude que inflamaria qualquer um em meio a uma discussão e abriria portas para me chamarem de Pseudo. Ora, parafrasear grandes autores ou teorizar sobre buracos negros na internet fica fácil.

A internet, não se esqueçam disso, trouxe a facilidade de mascarar personalidades e criar alter-egos. Aqui todo mundo sabe tudo, opina sobre tudo e critica tudo. Porem na vida real o buraco e mais embaixo. Duvido que metade dos teóricos que encontro por ai entrariam tão pomposos numa mesa redonda entre acadêmicos. Na rede tudo e mais fácil você consegue pesquisar instantaneamente qualquer assunto e ter respostas plausíveis na ponta da língua. E de fazer inveja a qualquer um o nível das discussões que encontro por ai.

Ultimamente esta muito incutido na mente das pessoas a distinção de alienados pela televisão e as pessoas ditas “cultas”. Portanto se estabelece um cenário de degladiacao de idéias, onde na verdade o bom-senso de uma discussão acadêmica fica de fora e prevalece o “quem e mais esperto” e as afrontas correm soltas.

O Pseudo-Intelectual, e mais uma figura estereotipada daquele sujeito, que dentro do seu universo de amigos, possui alguns gostos peculiares por leitura, cinema, gastronomia, seja lá o que for e constantemente expõe seus hábitos nada frugais a pessoas que não dão à mínima pra isso. Ou, é aquele cara que de tão inteligente se torna pedante ao querer dizer tudo o que aprendeu na sua aula de Física Quântica ou Semiótica.

O Pseudo- Intelectual não passa de apenas algo pejorativo e nem de longe remete ao “Ser Intelectual” , que hoje jaz em paz com sensação de dever cumprido. Gostar de Sartre, Kafka, Albert Camus não te faz um Intelectual, muito menos um Pseudo. Tudo depende da forma como cada um se expressa e do meio em que vive. Infelizmente os Pré- Conceitos reinam e ainda esta difícil de enxergar o dia que vão aceitar que o cara faz samba e lê Stephen Hawking.

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